domingo, 20 de julho de 2008

REAL X VIRTUAL

A vida turbulenta que levamos hoje em dia, a constante descrença no outro e o medo de machucar-se, tem levado as pessoas a terem, cada vez mais, receio de se envolver, colocando o coração em uma “caixa” e lacrando-a.

No entanto, não é fácil aceitar o fato de que no amor, assim como na vida, não temos garantias. Então, perguntamos a nós mesmos se vale à pena arriscar.

Na tentativa de arriscar, já que a maioria das pessoas se sente puxada nas duas direções: medo e desejo de amar, buscamos diferentes formas de envolvimento, já que a necessidade de amar e ser amado são inegáveis.

Uma forma curiosa de envolvimento sem correr, supostamente, determinados “riscos” é o envolvimento virtual, que muitas vezes se torna assustadoramente forte por ser idealizado.

Através de experiências colhidas e vividas no campo virtual, tento chegar ao âmago de determinadas questões que, na maioria das vezes, continuam sem respostas.

Tudo parece mais fácil por trás de um “nick”. No entanto, as ciladas emocionais não deixam de existir. Sempre começa como uma brincadeira, simples curiosidade ou curtição. Mas, de repente, caímos em uma armadilha... Nos vemos envolvidos por uma paixão que é misto de ilusão e realidade. Há uma fome crescente de intimidade: o coração tão guardado começa a bater mais forte, já não nos contentamos mais apenas com palavras digitadas na tela, queremos ouvir, tocar, sentir mais proximidade...

A realidade é que somos mais nós mesmos quando nos abrimos para o outro. Talvez, no meio de tantos “jogos de amor”, mentiras virtuais - às vezes inconscientemente reais – esse mundo virtual seja o lugar onde somos mais nós mesmos, onde nos liberamos, onde deixamos fluir o verdadeiro “eu inconsciente”, uma vez que nos sentimos protegidos pelo anonimato, até que este já não nos baste mais.

Aí reside o grande perigo: o encontro do real com o imaginário. Os dois são extremamente necessários e benéficos quando caminham paralelamente, porém quando misturados pode ser um sério problema.

Como paixão jamais combina com lógica ou rima com racionalidade, isso não se trata de uma escolha consciente ou de um ato premeditado; simplesmente acontece. Assim, é impossível explicar ou compreender na totalidade essa experiência humana ao mesmo tempo tão universal e misteriosa que é a paixão, seja ela real ou virtual. Uma vez que, ambos os conceitos acabam sempre se fundido.

A verdade é que precisamos ter coragem emocional para se entregar, para amar. E não adianta fugir: com medo, sem medo e apesar do medo o melhor mesmo é ir tentando...Se não nos arriscamos não sentimos dor, porém jamais conheceremos o doce sabor desse sentimento tão maravilhoso e efervescente.

Os custos do envolver-se podem ser altos, mas todos queremos e precisamos fazer essa viagem. E não adianta se esconder atrás da tela! Uma paixão virtual pode ser demasiadamente real.

“A vida é feita de muitos encontros e incontáveis reencontros”.

Beth Gago

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